Curso de Tétum
Tétum (em Tétum: Tetun), também chamado de Teto, é a língua nacional e co-oficial de Timor-Leste . É uma língua austronésia — como a maioria das línguas autóctones da ilha — com muitas palavras derivadas do Português e do Malaio.
Panorama linguístico timorense e a origem da língua tétum (tetun)
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A Constituição da República Democrática de Timor-Leste de 20 de Maio de 2002, estabelece no artº 13º § 1 que o português e o tétum são línguas oficiais do país. O tétum, sendo a língua franca em todo o território nacional, é falado pela maioria dos timorenses como primeira ou segunda língua. É a primeira e a mais importante das 16 (dezasseis) línguas nacionais reconhecidas pela RDTL. O carácter multilingue de Timor-Leste é uma das características que tornam o país mais próximo da Melanésia do que da Ásia, pese embora esta análise ser geopoliticamente discutível.
O tétum é uma língua austranésica, do ramo das línguas Malaio-Polinésias Ocidentais. Tem a sua origem no sudeste das Celebes (Sulawesi – Indonésia) e é parente do Malaio-Indonésio e, bem assim, da maioria das línguas do arquipélago indonésio, das Filipinas e do Pacífico (Sul).
Onze das línguas nacionais são também austranésicas e por isso próximas do tétum. As línguas timóricas são também faladas em Timor Ocidental e na ilha de Wetar (visível de Díli), ambas territórios da República da Indonésia. Quatro das restantes línguas nacionais tem origem papuana e são os vernáculos mais antigos da ilha.
As línguas nacionais são as seguintes:
Tétum
Habun
Galolen
Ataurense
Welaun
Idalaka
Mambae
Kemak
Tokodede
Baikenu
(Dawan)
Makuva
Bunak
Makassae
Makalero
Fataluku
Variedades de Tétum:
- o Tétum-Praça (ou Tétum-Díli ou Tétum-Bidau) que se disseminou pelo território leste-timorense a partir de meados do século XVIII; inicialmente seria um pidgin, tornando-se depois um crioulo; a
Igreja Católica contribuiu para o seu estudo sobretudo a partir do início dos anos 80 do século XX, até como forma de resistência cultural ao ocupante indonésio, chegando a criar a sub-variedade de tétum litúrgico, ainda hoje
usada nas cerimónias religiosas católicas;
- o Tétum-Térik, falado no sudeste do país;
- o Tétum-Belo falado nas regiões fronteiriças com Timor Ocidental e; o Tétum Ocidental, originalmente a mesma língua que o Tétum-Belo mas que adquiriu características diferenciadoras, sendo hoje falado no distrito indonésio de Belu.
As três primeiras variedades são fortemente influenciadas pelo português, ao passo que a última foi parcialmente assimilada pelo dialecto do indonésio falado em Timor Ocidental. O tétum-belo e o tétum-térik são de um modo geral, mais
arcaicos, mantendo uma grande percentagem de vocábulos nativos e alguma complexidade gramatical que o tétum-praça perdeu. O tétum moderno é uma língua híbrida ou miscigenada, criada a partir de elementos indígenas e portugueses que se integraram de uma forma similar ao modo como galicismos e latinismos se tornaram inseparáveis do inglês [e do português]. Deste modo, na sua composição, o tétum é parcialmente austranésico e parcialmente uma língua românica (do Latim). A influência do português no tétum é comparativamente mais forte do que a influência do neerlandês no indonésio, dotando Timor-Leste de uma identidade única na fronteira entre o Pacífico Sul e o Sudeste Asiático. Haverá quem
catalogue Timor-Leste a par das Filipinas, como parte integrante da «Ásia Latina».
Para lusófonos a língua tétum é muito fácil de aprender dado que:
- Utiliza caracteres romanos, tendo um sistema fonético regular e muito fácil de pronunciar. A sua forma escrita é quase intuitiva para o lusófono, onde por exemplo, o «s», «z» e «x» são pronunciados e escritos sempre da mesma maneira, sem excepções (ex: susar <difícil, portugeza <portuguesa,Xina < China e xá<chá). O «h» é sempre aspirado, como em ha’u <eu.
- Tem uma gramática muito simples, com regras mínimas e pouquíssimas excepções.
- É uma língua com elevada percentagem de lusismos (60-80%), sendo por isso quase mínimo o esforço de aquisição de vocabulário para um lusófono.
Apesar de, desde 2004, com respaldo legal, existir um padrão oficial do que se designou denominar de tétum nacional ou tétum oficial (no fundo, o tétum-praça padronizado), a grande maioria dos tetumofónos não respeita as regras escritas
e orais. Isto dever-se-á, entre outros factores, ao facto de adultos e jovens adultos não terem tido educação formal em tétum (durante a ocupação indonésia, 1975-1999). Assim sendo, surgem, sobretudo em jornais, diferentes formas de
escrita. Observa-se a introdução de palavras de origem indonésia (como juta<milhão e algumas palavras técnicas) e a tetunização de elementos ingleses, (exemplo: developementu<desenvolvimento, anajamentu<gestão ou amandamentu<emenda).
Os falantes de malaio-indonésio terão também alguma facilidade em falar tétum na medida em que vários vocábulos são muito semelhantes ou mesmo idênticos como surat (id: surat <carta), suara (id: suara<voz), kuda (id: kuda<cavalo) ou ikan (em indonésio e em grande parte das línguas faladas no Sudeste Asiático e Pacífico Sul, ikan <peixe).
Assim sendo, falar tétum poderá facilitar ao lusófono aprender outras línguas austranésicas como filipino (também com muitas palavras de origem castelhana, como baca <vaca), o malaio ou indonésio línguas que também possuem centenas lusismos, como «bola» «boneka» ou «bendera», fruto dos 150 anos durante os quais o português foi língua franca e de comércio no Sudeste Asiático).
Tradução/adaptação e HULL, Geoffrey (2003), Mai Ita Kolia Tetun. A Beginner’s Course in Tetum-Praça The LinguaFranca of East Timor, Publicação: Sebastião Aparício da Silva
Project, Winston Hills, Austrália, 4ª edição, pp: xi –xv.