Numa época de integração europeia e de globalização, em que tanto se questiona a sobrevivência da identidade cultural dos povos europeus, sobretudo a dos países mais pequenos ou mais periféricos, logo a língua e a literatura são vistas como reserva cultural desses povos. Herdeira de uma tradição latina, linguisticamente continuada em línguas românicas (português, galego, castelhano, catalão), com as respectivas variedades dialectais, e uma série de falares fronteiriços, as chamadas "falas raianas", além das literaturas de maior circulação - a portuguesa e a espanhola -, na Península Ibérica existem hoje outras, como a catalã ou a galega, que evidenciam e reforçam a especificidade cultural das várias regiões peninsulares. O mosaico linguístico acima traçado só ficará completo com referência ao euskera - a língua basca - um dos mais antigos substratos do território peninsular.
Apesar da antiga tradição comum, por razões de ordem vária, nem sempre o conhecimento mútuo, inclusive ao nível das línguas, tem sido aquele que a proximidade geográfica e a afinidade histórica permitiriam ou justificariam. Nas últimas décadas, porém, tem vindo a registar-se um renovado interesse dos espanhóis pela literatura e língua portuguesas, não sendo menos assinalável a tendência inversa. Eventualmente impulsionado por factores económicos, profissionais ou outros, em consequência da integração de Portugal e da Espanha na CEE, actual União Europeia, esse fenómeno de abertura à cultura do país vizinho suscita a reflexão sobre uma série de problemáticas linguísticas e literárias que faz todo o sentido no âmbito de um Mestrado em Estudos Ibéricos, criado numa Universidade de fundação quinhentista, de tradição verdadeiramente ibérica e tão próxima da "raia".
O estudo dos traços culturais comuns aos povos peninsulares, nas suas expressões fundamentais e construtoras - a língua e a literatura -, embora decorra dos Estudos Hispânicos, antigo filão filológico, linguístico, literário e cultural, em suma, conheceu recentemente um notável impulso com a criação, na Guarda, de um Centro de Estudos Ibéricos, apadrinhado pelas Universidades de Salamanca e de Coimbra, cujos objectivos se centram no estudo da Península Ibérica, definida por Eduardo Lourenço como "raro exemplo de longo passado comum e de heranças partilhadas que a institui como um dos espaços privilegiados onde se joga o sentido da História presente e futura".
O Curso de Mestrado visa possibilitar uma melhor compreensão da especificidade das línguas, das literaturas e das culturas peninsulares no seu estado actual, objectivo para o qual cooperam áreas científicas como a História, a Antropologia, os Estudos Artísticos, a Música ou a Filosofia.
Em conformidade com o espírito da Convenção de Bolonha, o Curso contribui para a cooperação académica entre os países da União, uma vez que o "Convénio Cultural entre a Universidade de Évora e a Universidade da Extremadura" contempla, no seu artigo 7º, a possibilidade de intercâmbio de docentes e de alunos. Além da Universidade da Extremadura, entre outras instituições espanholas, está prevista a colaboração regular com as Universidades de Salamanca, de Santiago de Compostela, Granada e Complutense de Madrid.
Destinatários
Espaço de reflexão, de investigação e de valorização profissional, o Curso destina-se a um público-alvo que, tendo habilitações académicas, actividades profissionais e interesses culturais diversificados, pretenda ampliar e aprofundar o seu conhecimento sobre as várias manifestações que consubstanciam a identidade cultural dos povos peninsulares.
O Curso de Mestrado em Estudos Ibéricos destina-se, pois, a quadros especializados em áreas e actividades profissionais com intervenção ao nível das relações culturais e linguísticas entre Portugal e Espanha, designadamente a professores de línguas, de Literatura, de História, profissionais de editoras, jornalistas, tradutores, gestores turísticos e culturais.